quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Destino de modelo e obra.


Danaide 1884-1885 Mármore.

Dizem que a própria Camille Claudel posou para essa obra.
Isso é perfeitamente possível, já que Rodin começou a esculpir
Danaide um ano após conhecê-la. Mas o que chama a atenção é
a semelhança entre o destino da obra e de seu modelo.
Danaide foi concebida inicialmente para ser uma das estrelas
da Porta do Inferno. Não se sabe exatamente as razões, mas
essa peça acabou excluída do projeto.
Durante os trabalhos para a Porta do Inferno, Camille entrou
definitivamente na vida do mestre, este tinha certamente muitos
planos para a jovem. O mesmo acontecia com Danaide. Era a peça
mais completa de todo o projeto. Assim como em Camille, o escultor
via nela, toda a síntese de sentimentos contraditórios que
expressavam a dor e sensualidade essenciais para a composição
de sua obra prima. Por trás dos olhos calmos de Camille, se
escondiam tormentas e sofrimentos indescritíveis e somente
Rodin conseguiu captá-los ainda em sua tenra origem.

Camille vive em Danaide, assim como certamente, Rodin vivera
nas duas. Dor e sensualidade andavam juntas nas mãos do mestre.
Ele afastou Danaide da obra, do atelier e de tudo aquilo
que projetava em seu futuro. A peça sobreviveu às tempestades
que aconteceriam poucos anos mais tarde, mas seguiria um
rumo inverso da grande obra, totalmente solitária.

Da mesma forma, Camille teve um destino semelhante.
Em pouco tempo tomaria um rumo isolado em meio à loucura
e a dor.
Camille e Danaide saíram juntas da vida de Rodin.
Talvez essa tenha sido a grande homenagem do mestre à sua
jovem amante.
Uma honra que poucos perceberam, mas que ninguém mais
recebera do grande artista.